terça-feira, 25 de dezembro de 2007

texto descaradamente roubado (by nick)

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"Não se envolva". Uma vozinha sussurrava essa frase em sua mente como uma fórmula matemática que não se deve esquecer. "Não se envolva". Nunca o faça. Mas ela estava ali, toda bonitinha, toda menina adorável e apetitosa, dizendo palavras complicadas que ele ouvia de longe e fumando um cigarro. Era um contraste atraente que, de certa forma, o fragilizava. E ele queria estar ali pra olhar naqueles olhos grandes e ver qualquer malícia casual, encontrar qualquer engano e ouvir as palavras soarem falsas quando ela dissesse algo sobre o tédio e as músicas irritantes que tocavam aquela hora.

Seu único desejo era ouvi-la falar. Mais nada. Mas tinha toda a questão de um possível envolvimento, da inevitabilidade de alguém sair magoado, de perder um desejo ou um sonho cedo demais. De encarar a frustração de ver os cabelos balançando em uma fuga, ou de ser mutilado ao ouvir palavras de repulsa. Ou de ódio. De qualquer forma, alguém se sairia mal; e ele não tinha certeza se gostaria de se arriscar. Mas... quem garantia um envolvimento, afinal? Podia não ser mais do que um encontro casual e sem futuro. Nenhuma promessa, nenhuma palavra de peso. Ele é que se precipitava, tentando imaginar uma razão para não fazer algo que desejava, pra evitar que esse algo acontecesse. Quer dizer, envolvimento? A sua idéia de comprometimento acabava depois do beijo e da troca de nomes. Não ia passar disso.

A música continuava a tocar e ela balançava a perna, acompanhando o ritmo. Ele sorriu. A garota era realmente encantadora. Tinha presença, ou qualquer coisa do tipo que captava completamente sua atenção. Se aproximou, querendo não dar uma de idiota, mas inevitavelmente o fazendo. Era o amor de um segundo se manifestando com toda a sua força, clamando pelo ridículo.

- Olá.

Ela o encara, surpresa. Sua amiga ao lado solta um suspiro de exultação. Quando se dá conta de que é o garoto que a estava observando até agora, sorri com ar de quem sabe das coisas, o que o deixa tremendamente inseguro.

- Eu estava me perguntando se você viria.

Um trago. Atitude desinteressada. Gostava disso.

- Olha, eu vou ser bem direto.

- Eu gosto de pessoas diretas. Mas primeiro...


Ela se vira para a amiga ao lado, que diz:

- Cinco reais.

Ela arranca o dinheiro da bolsa e o entrega nas mãos da amiga, que sai em seguida. A garota bonita coloca o cigarro no canto da boca e fecha a bolsa que está em seu colo.

- Eu tinha apostado que você não teria coragem.

"Ahá"!

Ele a beija. Os dentes batem. Desconforto. Um novo ângulo, talvez? Ah, agora sim...

Eles ficam assim parte da noite e saem para uma caminhada. Nenhum contato aconteceu além do entre-bocas. A conversa flui. Ele gosta do jeito que ela o atrai, e achou engraçado o fato de não saber seu nome ainda. Palavras que ele nem sabia que passavam por sua mente naquele instante escapam da sua boca, em um momento de impulsividade:

- Casa comigo?

O quê? De onde isso saiu? Diversão nos olhos dela. Merda!

- Você é realmente impulsivo, não? É essa a hora em que nós resolvemos comprar um cachorro e começamos a escolher os nomes dos nossos filhos também?

Silêncio. O frio se colocava entre os dois. Ele tentava encontrar uma maneira de desdizer aquilo, de fazer graça, de ajeitar a situação. As palavras começavam a sair atrapalhadas de sua boca quando ela disse:

- Eu gosto de pessoas impulsivas.

Ele ri, divertido e surpreso. A beija. Não aprendendo a lição, ou a segurar a língua, a convida para ir para casa sua casa; eles amanhecem abraçados e suspiram algo sem nome e tremendamente promissor no café da manhã.

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Um daqueles textos velhos que todo mundo conhece, mas que sempre caem bem. (ou simplesmente: Ai que preguiça, como diria meu querido Macunaíma)
por fernanda f. (no entre-nós.blogspot)



d-_-b - Flowers for Charlie - Elliott Smith